quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Carreras, dezembro, Natal

Carreras em um de seus vários especiais de Natal
(capa do DVD)


Josep Carreras nasceu num cinco de dezembro, data que eu já me acostumara a celebrar desde pequena por ser o aniversário de minha tia e madrinha Hirma. Acaba, portanto, de completar pleníssimos 62 anos. Em paz com a música e a vida, profundamente envolvido com sua obra humanitária - a luta sem trégua contra a leucemia -, festejado em Barcelona com toda pompa e circunstância por seus 50 anos de Liceu, Carreras é uma espécie de síntese viva de arte, grandeza e dignidade.

Lembro-me do rebuliço que era, todos os anos, a preparação do livro de mensagens que a incansável Sharon Herzog, de saudosa memória, entregava a ele no seu aniversário. Com meses de antecedência, todos os membros de sua lista de correio eletrônico enviavam suas mensagens pelo site
http://www.jcarreras.com. Algum tempo depois vinham as fotos da entrega solene daquela "confirmação de votos" anual. Era o nosso jeito de lhe dizer estamos aqui, estamos contigo.

As canções de Natal sempre estiveram na pauta de Josep Carreras. Um histórico disco com os Meninos Cantores de Viena traz uma das mais delicadas gravações de todos os tempos de Panis Angelicus, de César Franck. E o cd da Misa Criolla, de Ariel Ramirez - para mim, até hoje o mais arrebatador de todos os discos do artista - inclui algumas maravilhas natalinas do grande compositor argentino. Navidad Nuestra e Navidad en Verano são peças inesquecíveis, extremamente criativas e que reafirmam algumas tradições musicais latinas muito importantes para a cultura do nosso continente.

Há também algumas gravações de especiais, como Natal em Viena (com Domingo e Diana Ross) ou A Celebration of Christmas (com Domingo e Natalie Cole), na minha opinião um pouco mais comerciais. Gosto muito, porém, de um disco mais despojado e que talvez não figure na lista dos mais vendidos: Merry Christmas, de 1986. Essa pequena jóia, com o acompanhamento da Orquestra e Coro da Ópera de Viena, tem todos os ingredientes do Natal, com todas as maravilhas da voz de um Josep Carreras em seu auge, mestre das delicadezas e dos pianissimos. Em versões bilíngües e às vezes trilíngües, desfila canções queridas da nossa memória, como Noite Feliz (Grüber-Mohr), Cantique de Noel (Adolphe Adam), Guten Abend, Gute Nacht (Brahms), o Ave Verum de Mozart, a Ave Maria e o Mille Cherubini de Schubert e tantas outras.

Esse Josep Carreras natalino é particularmente verdadeiro, a voz redonda, cheia, de uma sensibilidade à toda prova. E técnica, também, que técnica! A gente agradece por ter esses momentos de beleza eternizados e disponíveis. Destaco particularmente o pequeno medley que inclui Joy to the world (Häendel) e as tradicionais El cant dels ocells (espécie de hino de resistência do povo catalão) e Mary's boy child. Uma que me comove em especial é Adeste Fideles, a cara do Natal. Outras mais populares, como White Christmas (Irving Berlin) e Jingle Bells, ao lado de It's Christmas time this year (Holdridge-Huckaby) e Navidad (A. Parera) fazem desse disco uma deliciosa volta às recordações da infância e às tradições que aprendemos a cultivar, nessa época do ano.

Na voz de Josep Carreras, sempre emocionante, sempre tão especial, o Natal ganha anjos, estrelinhas, flocos de neve, renas, trenós, roscas recheadas e os sabores mais insuspeitos. Mesmo no nosso verão tropical e quase sempre ensolarado. É mais ou menos como a gente se sentir em plena Missa do Galo na Capela Sixtina...

Um comentário:

As Tertulías disse...

Mas como que eu nunca assisti isto?????? Voce tem????