sábado, 7 de junho de 2008

50 anos de paixão

Em 1958, aos 11 anos, ele era assim. Na foto com Magda Pruneda, sua professora de música, está vestido com o costume com que debutou no palco do Gran Teatre del Liceu de Barcelona, na ópera "El Retablo de Maese Pedro", de Manuel de Falla.

Em 2008, a sua casa presta a Josep Carreras a mais justa das homenagens: uma exposição que retrata sua trajetória artística nos últimos 50 anos e um concerto no próximo dia 17, que tem tudo para ser dos mais emocionantes, celebram uma vida de arte e beleza, marcada pela dimensão humana do artista e por seu amor por um teatro onde, mesmo antes de cantar, tomou a decisão de dedicar-se à música.

Para dar uma boa medida da importância e da emoção dos eventos que comemoram esse jubileu, este blog publica aqui o comovido artigo do jornalista Pablo Meléndes-Haddad, fã assumido do tenor e orgulhoso curador da mostra. São palavras para não perder.

Carreras: 50 anos de Liceu

Pablo-Meléndez Haddad*

Em 1993, entre uma cerveja e outra em plena Rambla, comentava com um amigo o regresso de Josep Carreras ao Liceu na ópera Fedora, de Umberto Giordano. O interessante é que o grande tenor voltava aos palcos do Teatro Liceu na mesma produção que, em 1988, recebera um Carreras recém-recuperado de uma leucemia que quase lhe custa a vida. Apesar de convalescente, o cantor compareceu ao Liceu como espectador, para assistir Fedora interpretada por Plácido Domingo e Renata Scotto, dois de seus amigos e companheiros de batalha, que o receberam com carinho e o obrigaram a subir ao palco do “seu” Liceu, para reencontrar-se com o público. E não só como o grande cantor que era, mas sobretudo como um ser humano que acabava de vencer a batalha contra o câncer.

Este episódio íntimo marcou não apenas a vida de um homem na plenitude de sua existência e de seu talento; foi emblemático na vida de uma estrela incomensurável do universo artístico internacional, um tenor idolatrado por meio mundo. O mesmo que, em janeiro de 1958, debutava no palco do Liceu como um simples menino cantor, na ópera El Retablo de Maese Pedro, de Manuel de Falla. Sim, faz 50 anos agora. Por isto, o Grande Teatro do Liceu organizou uma grande homenagem em honra desse catalão universal que, no próximo dia 17 de junho, oferecerá um recital aos “liceístas” – e que nesta sexta-feira inaugurará, nos salões do teatro, uma exposição que retrata esse meio século de trajetória artística, e da qual tenho a honra de ser o curador.

Carreras entrou em minha vida quase por casualidade quando, há algumas décadas, me fizeram escutar a então mais recente gravação da ópera Tosca por minha soprano favorita, Monserrat Caballe. O tenor daquela gravação era um jovem e brilhante Josep Carreras. Apesar de os dois já terem atuado juntos em várias gravações, enquanto não escutei o seu Mario Cavaradossi não me conectei àquela voz que era puro veludo - e que com seu canto comovia até as pedras, porque representava o autêntico som da paixão. Depois daquela audição veio o “enamoramento-freaky” típico do aficionado da ópera, ao descobrir o seu impressionante Werther - ao lado de uma deliciosa Frederika von Stade - e os muitos outros personagens plasmados em uma forma de interpretação única, que me marcaram como fã do gênero.

Ao fazer parte desta homenagem a Josep Carreras, terei o privilégio de lhe agradecer as muitas horas de emoções íntimas, de pequenas comoções anímicas, que me converteram na pessoa que hoje sou. A exposição, aberta entre 5 de junho e 31 de julho, retrata parte de uma história que desemboca na Fundação Internacional Josep Carreras para a Luta contra a Leucemia, o último ato desse barcelonense que beijou a glória.


* Pablo Meléndez-Haddad é jornalista e curador da exposição comemorativa dos 50 anos de Josep Carreras no Gran Teatre del Liceu de Barcelona. O artigo foi publicado originalmente no jornal digital ABC.
Meus agradecimentos à Ghislaine, criadora e moderadora do Grupo Josep Carreras no Yahoo, que tem sempre uma notícia fresquinha para nos manter ligados.

Nenhum comentário: